segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dia H

Bate forte, alguém pede para você ficar calmo, tem motivos suficientes para enfartar. Suspende o ar. Não é mais oxigênio. É qualquer partícula que está disponível. Sua pálpebra pula e pula para não fazer mais parte do todo. O azul fica roxo e o pé pesa no acelerador. Enxerga vaga onde não tem. Pisca alerta. O chão é vermelho, mas o vermelho sobe pelas paredes de corredores. Ignoro rostos, faces curiosas que torcem com o caso pior do que o seu, com medo de sangue ou vontade de ver mais.
Não. Barba branca embaixo do cobertor velho de passar roupa. Tremor de lábios pesados de oitenta e três invernos. Os olhos sem cor escuros brilham com o sopro de vontade de viver mais esperanças. O suspiro de alívio ainda não vem até fechar a porta em cima de rodas. Contam-se as partículas de urina e sangue.
Enquanto isso os olhos e ouvidos foram magnetizados para as piores fotografias:
Restos de vômito na camisa sem botão e preso no canto da costura do sapato; no outro lado refluxo de boca sem controle de dentes falsos, sem controle de olhos; bochecha e queixo de nenê roxo de tão vermelhos; agonia do pé na havaiana arrebentada; da costela quebrada que não pode deitar; dos cílios marejados pelo pior que passa na maca imóvel; do som do escarro com vômito; do choro de quem acha que vai morrer...
Em frente, sem precisar mover o pescoço vê-se a luz da funerária com tipologia oportunista, na esquina a igreja de culto alto e no meio ele o H. Que dia H. Dentro você não consegue respirar, sente o medo, a dúvida, a dor, ao lado a esperança e em frente tiveram a pachorra de lembrar o fim.
Parece que quando a gente vira o rosto para não ver o que viu, a imagem fica gravada mais rápida. Graças, saímos e batemos a porta sobre rodas caminhando sobre pernas firmes.

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