terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Para ela: a imaterial

Apaixonei-me por ela cedo, quando ainda brincava de escorregar nas pernas do meu avô e ouvia as poesias de ponta cabeça com as pernas no encosto do sofá. Ouvia ela através dos cânticos que minha avó embalava cozinhando um empadão para o Natal. Admirava -a de madrugada nos filmes de "BestWestern" com meu vovi. E depois sonhava com ela... Talvez tenha ficado afastada dela por vários períodos diferentes de tempo. Como um grande amor platônico que vem e vai, nos repele e nos atrai. Da infância até os quinze anos quando olhei o anúncio de "aulas de teatro" perto da escola. Comecei a trabalhar por causa dela, com o sonho de um dia poder tocá-la, chegar bem pertinho. Flertei com ela durante uns dois anos e depois parei, pois fazia planos de quando estivesse com mais dinheiro pudesse reencontrá-la e curtir melhor nossa vida. Então a busca por dinheiro e o sucesso dele me fizeram esquecer o porque fazia tudo. Dez anos depois descobri e voltei empolgada e dedicada para nos reencontrarmos. No início conciliei tudo e sabia separar a nossa relação do material, do físico. Mas ao vislumbrá-la tão próxima de mim, talvez tenha errado um pouco a mão, e larguei o plano físico para poder ficar com ela todas horas do meu dia. Dedicar-me integralmente a ela. Foi tudo muito lindo. Lindo até o momento em que eu comecei a cobrá-la de algo que ela não tinha culpa. Comecei exigir dela o que abri mão. Achei que ela poderia me dar a paixão e mais o plano físico que abandonei. E é claro...nossa relação começou a se desgastar. Então decidi que voltaria para o plano físico, mesmo tendo que ficar mais longe dela. Dei menos do que ela esperava para poder retribuir como eu gostaria. E ela me retornou menos do que eu esperava com o que dei para ela. Mas assim agora quero consumar uma relação sem exigências, sem esperar retorno. A entrega será livre por amor a ela, a minha arte.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Personagem "o homem molhado"

Hoje eu vi um homem de terno molhado, cabelo pingando e poças no sapato novo que comprou para a entrevista. Caminhava na chuva da rua dos Pinheiros em direção a Faria Lima. Seu olhar ensopado questionava se suas mãos vão poder apertar as secas do Diretor. Não era para ser? É assim que se deve pensar? A culpa é do guarda-chuva que ficou em cima do armário da lavanderia. E ainda não pode esquecer que não pode enfiar o terno dentro da máquina de lavar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sem promessas

Depois de um longo tempo consegui compreender uma atitude mesma que minha memória transformou. Novo desenho da lembrança impressionante e impressionada pela possibilidade modificada pelo tempo. Nós a desenhamos novamente conforme nossa sanidade dentro do limite real. Sob o julgamento correto dos olhos que de longe podem condenar à todos entre si. A exigência que esteja com sentidos vivos amanhã com os comprissos de ontem. Mas ninguém em sã consciência reflete quão longo é o dia para se garantir estar vivo. Que palavras usar a convencer os seus, se não a ti pertence algo além deste instante? Quão leviana sou e fui por ter deixado morrer a vontade de um curso em tempo final, se não sou dona da vida. Sem justificativas para egoísmo que tem culpa já desculpadas. Todos contratos são irreais se não preverem a morte nas entrelinhas. O contrário se enchem de apelos, promessas e a não espera da morte que afundou o continuar. E o inconformismo era como se deixou morrer nos últimos dias. Não sou a mesma de ontem que morreu entre os julgamentos. E agora, de outro lugar, pode-se emitir as palavras e acordos de sons de outra vida? Somente sem grandes promessas.

Posso desistir

Eu posso desistir. Alguém inventou que a persistência é uma qualidade, mas ela pode também ser sinal de burrice, pois todos podemos voltar a atrás quantas vezes quisermos e assim mesmo não estaremos desistindo, pelo contrário, continuamos lutando de alguma forma para nossos sonhos se realizarem. Toda vez que você desistir de algo, está automaticamente pensando em começar outra coisa nova.
As vezes persistir em algo que já secou é só perda de energia. 
Só não desisto da minha causa. A causa de existir com alegria.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sem o Eu maior

Pés inchados sobre a almofada bege dilatam as veias que recebem a vibração dos maus pensamentos. Ondas depressivas entram em rota de colisão no círculo vicioso do inconsciente que para de receber as ordens do eu maior. Reverberam os questionamentos de amor e da sabedoria.

Se saber traz o sofrer, por que a busca incessante dessa morada nas incertezas? 
Pra quê trabalhar? se o trabalho é uma das ilusões onde brincamos de distrair da existência e que nos afasta dos vícios. Fábula boa que junto da instituição do casamento e filhos, fazem girar as rodas do consumo e as peças econômicas capitais, e o impedem de querer a morte, pois aí pensam que podem precisar de você. 
De onde vem o desejo de fazer achar que você quer entrar no carro novo, ter celular que entra na internet, notebook que cabe na bolsa, a TV que se vê de óculos... Aí, mas qual é mesmo o motivo da existência? 
Ser alguém, sucesso onde for, casar, viver de trabalhar, comprar, ter filhos para fazerem o mesmo e assim o círculo continua sem parar... 
Será que o motivo de estar aqui para aprender algo com o bem que se faz a alguém e a todos amar é utópico? Então não sei pra que tanto o que, aonde, como...se tanto faz...tá aprendendo de qualquer jeito em tudo que se faz e em todo lugar tem esta oportunidade. Não precisa nem tentar deixar alguma coisa para humanidade, só ame e faça caridade. Eu maior voltando...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

sob o véu

qual é a real diferença

entre um poeta da academia de letras que você conhece ou não

entre um cantor que canta no bar ou num grande salão

entre um pintor que tem sua obra no masp ou no porão

entre um ator de teatro ou de roldão?

será que as pessoas que atingiram maior excelência na arte são as que conhecemos na escola, nos livros ou na mídia?

quantos outros Mozarts, Picassos, Pavarottis, Shakespeares, Al Pacinos existem sob o véu da obscuridade da história?

será que os verdadeiros artistas sublimes são aqueles imortalizados pelo tempo?

ou será...

pois os "ou" são muitos...

aí me vem... por que será que mesmo sem ter chance alguma de serem revelados eles continuam suas obras?

por que mesmo sem ter recebido qualquer prêmio ou reconhecimento não deixam de fazer e criar, criar novas e belíssimas artes?

podem ter esperança de um dia serem imortalizados, mas às vezes fazem a escolha de não querer... não querer que sua arte termine nunca... no sentido de nunca acabá-la e no sentido de nunca ser conhecida por ninguém além de suas margens de sangue e amizade.

não sei... eu só sei que a estes eu devo muito.... parabéns! aplausos de pé.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

quando foi?

eu só queria saber quando foi?
quando foi?
o exato momento que deixamos de priorizar o nosso amor
e que colocamos á frente nossos sonhos individuais,
ambições díspares, que nos impulsionam a caminhos opostos?
se eu pudesse saber o momento
voltaria no tempo para ver quem foi o primeiro,
pois sei que você não o fez sozinho,
eu tenho toda minha parte neste caminho,
caminho de quase solidão que vivemos a dois.
o amor existe meu amor e sempre irá existir, mas não é mais o primeiro,
não é o que nos faz agir com o impulso de viver.
hoje nos faz pulsar a profissão, carreira, ocupação, ambição de um reconhecimento,
o reconhecimento como servidor da cor, da arte, da alegria do outro,
mas não de seu amor.
quando eu chegasse a este momento decisivo poderia imaginar como seria
se um dos dois não tivesse tomado esta decisão.
escolha um pouco infeliz de amor a dois, mas feliz de amor de servidão.
não sei se tomaríamos caminhos diferentes
depois de ver como tudo já se encaixou no tempo.
mas como poderia voltar no tempo? em que tempo?
se não sei nem mesmo quando foi.