domingo, 18 de outubro de 2009

aniversário do meu vovi 20/10...Deus abençõe!

Ode aos aposentados

Pobre elite desprezada... espezinhada!
Pobre patrimônio desconsiderado!
Quantos sóis você viu despontar?
Dia a dia, na lide comum,
Sob a canícula, ou debaixo do vendaval,
Na temperança ou ao rigor do frio,
Você buscou o cumprimento da vida.
Quem pode lhe imputar mazelas?
Quem pode lhe macerar os louros?
No laborar perpétuo: assistiu a tudo.
Viu a fome, o desabrigo e a mingua.
Viu a doença, o cansaço e a injustiça.
Noites e noites, a velar prostrada,
Buscou, febril, a réstia da esperança.
Luta, só a luta foi sua companheira.
Promessas e alentos vãos, paliativos
Ilusórios, se derramavam no seu farnel,
Enquanto as cãs se avolumavam, céleres.
Triste fim para um herói sem glória!
Da juventude airosa ao declinar pungente,
Ser viu fantasma de um viver proscrito,
É um prêmio infame, desumano e triste.
Degenerada sociedade que a esse fim se apresta!
Num simples lance de descaso torpe,
Lançar ao nada esse tesouro vívido, que de escaladas promissoras, exemplares, vem,
É pena insólita, perversa e fria,
Que clama aos céus por tão funesto horror.
Humanidade pérfida, malvada e insana,
Será que esquece o ciclo inalterável
Que a leva ao seu final prescrito?
O novo deve, fatalmente, ficar velho.
Tudo tende a fenecer, sem trégua.
Viver à margem não quer dizer sarjeta.
Inativar, não é deixar de ser,
E aposentar não é morrer, portanto!
Onde fica a honra atribuída a todos?
Pense em si, detentor do arbítrio,
Quando julgar aquele que será você!


Nilton Abrão


Filha de Seixas

Avó - Anita! (assobia: Do,mi, fa) Filha vem comer. Sobe filha, a janta tá pronta.
Anita – To subindo vãe. (corre em círculos, pula, desvia, se esconde). (tempo diferente)
Avô – (assobia) – Anita. (assobia novamente). Vem sobe logo. Não vou chamar novamente, hein.
Anita – Tá, espera...só mais um pouco.
Avô – Eu não quero descer aí.
Anita – Tá bom, já vou! (para ela) Por que agente não pode comer só quando tem vontade? Por que fazer lição de casa, ir para escola, tomar banho, comer, dormir, tudo tem uma hora marcada? Esta não é uma reflexão que eu tenho com 6, 7 ou 9 anos de idade. Mas se eu pudesse pensar assim agora, como pensarei mais tarde, agora saberia que alguma coisa estava fora do lugar. E talvez por isso mesmo, sem saber bem o motivo, enfrentava todos como se já soubesse.
(Anita senta-se à mesa) – O que é que tem para comer?
AvóChurisso! (pausa, come)
Anita – Que carninha boa!
Avó – É língua de vaca. Não é gostosa?! Então.
(Anita se vira e já conversa com amigas) – O que é?
Amiga 1 – Dipilick! Quer?
Anita – Hum, bom!
Amiga 2 – Vamos brincar de mamãe filhinha?
Anita – Na sua casa ou na minha?(em um quarto da casa, só as duas)
Amiga 2 – Oi, bem! Cheguei (beijam-se na boca com os lábios recolhidos) Como estão as crianças?
Anita – Estão bem! Vamos sair para ir ao mercado? (dança na frente do espelho) – “Chorando se foi, em um dia só me fez chorar” (beija o espelho, pausa. Limpa a baba) (outras amigas entram)
Amiga 1 – Todo mundo já beijou só a Anita que não. Ah, ah!
Amiga 3 – Você nunca beijou?
Anita – Já! Beijei um menino lá do prédio. O nome dele é João. Ele beija bem, só que baba um pouco credo.
(entra a mãe saem as amigas) Mãe – Seu pai gosta de você, mas ele tem uma família. A Paula. (pausa). Agora você vai passar as férias com ele... Se você quiser.
(no telefone) Anita – Eu sonhei que você tinha ficado menstruada!
Amiga1 – Não acredito. Eu fiquei!
Anita (desliga o telefone) – Mãe eu não vou sair sem usar sutiã.
Mãe – Mas filha não tem nada!
Anita – Claro que tem, ó! Não dá. Todo mundo ficou menstruada, menos eu. Todo mundo tem peito, menos eu.