sábado, 26 de junho de 2010

Mestre Al

Sim, a lágrima se confirma. Ela desce e agora faz o som. O som da saudade que fica e do descanso...
Foi por ele, sem nenhum exagero, por Alberto Guzik, que estou onde estou hoje.
Depois de ouvir com os poros abertos as suas aulas, que me fascinavam, eu começo a seguir seu blog, e depois seu twitter...
Lembro bem das aulas, do jeito único que sentava na cadeira; na forma como passava as mãos pela careca; como ecoava o seu tom de pensar; como ligava as histórias do teatro parecendo que estava presente em todas elas.
Aquela cabeça era uma enciclopédia. Nos exercícios propostos ele corrigia cada palavra que fosse pronunciada errada, ou pulada, de obras do Shakespeare, Jorge Andrade ou Nelson Rodrigues, de cabeça. Ele as tinha gravadas.
Não é atoa que fiquei muito feliz quando ele me elogiou em duas cenas preparatórias. Uma na "a Escada" e outra em "Hamlet", em uma proposta totalmente experimental.
Conheci o Satyros por causa dele. E fui ver "Divinas palavras", "Liz". Apaixonei-me pela Cia. Tive o prazer de assistir a última apresentação da "Velha Apresentadora", um presente.
E através do twitter dele que vi uma oportunidade de ingressar no Satyros e poder estar ao seu lado. Não falei nada com ele durante o processo. Depois, quando de fato entrei, encontrei com ele e disse com alegria que iríamos trabalhar juntos... Li seu livro do Satyros: "Um palco visceral" e suas peças publicadas em Set/2009, e ganhei um autógrafo especial dele: "Para Pri, ex-aluna e agora colega (!) com enorme abraço".
Tive a oportunidade de subir no palco com ele duas vezes em uma substituição do "LIZ", mas infelizmente só ficamos juntos pouco tempo nos ensaios para o Zucco, que estrearemos se Deus quiser em breve.
Na minha formatura, tive vontade de montar "Um Deus Cruel", mas minha turma não topou. Adoro essa obra, e quem sabe ainda vou montar...
Não vou estrear com você Mestre, mas saiba, onde estiver, que você estará presente no meu coração quando eu pisar no palco. EVOÉ.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

lágrima antecipada

sem som de nada.
não pode escutar uma lágrima escorrer.
ilusão da força da água.
a natureza da força é maior.
a letra da lágrima a correr.
e quantas letras.
a imagem do som que ecoa na memória do rosto.
o rosto molhado que não acredita fácil.
ainda não precisa molhar o rosto.
tem que secar com a esperança de viver.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dia H

Bate forte, alguém pede para você ficar calmo, tem motivos suficientes para enfartar. Suspende o ar. Não é mais oxigênio. É qualquer partícula que está disponível. Sua pálpebra pula e pula para não fazer mais parte do todo. O azul fica roxo e o pé pesa no acelerador. Enxerga vaga onde não tem. Pisca alerta. O chão é vermelho, mas o vermelho sobe pelas paredes de corredores. Ignoro rostos, faces curiosas que torcem com o caso pior do que o seu, com medo de sangue ou vontade de ver mais.
Não. Barba branca embaixo do cobertor velho de passar roupa. Tremor de lábios pesados de oitenta e três invernos. Os olhos sem cor escuros brilham com o sopro de vontade de viver mais esperanças. O suspiro de alívio ainda não vem até fechar a porta em cima de rodas. Contam-se as partículas de urina e sangue.
Enquanto isso os olhos e ouvidos foram magnetizados para as piores fotografias:
Restos de vômito na camisa sem botão e preso no canto da costura do sapato; no outro lado refluxo de boca sem controle de dentes falsos, sem controle de olhos; bochecha e queixo de nenê roxo de tão vermelhos; agonia do pé na havaiana arrebentada; da costela quebrada que não pode deitar; dos cílios marejados pelo pior que passa na maca imóvel; do som do escarro com vômito; do choro de quem acha que vai morrer...
Em frente, sem precisar mover o pescoço vê-se a luz da funerária com tipologia oportunista, na esquina a igreja de culto alto e no meio ele o H. Que dia H. Dentro você não consegue respirar, sente o medo, a dúvida, a dor, ao lado a esperança e em frente tiveram a pachorra de lembrar o fim.
Parece que quando a gente vira o rosto para não ver o que viu, a imagem fica gravada mais rápida. Graças, saímos e batemos a porta sobre rodas caminhando sobre pernas firmes.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Macha

Dizem que não existem olhos negros, mas os seus são de puro negro.
O brilho descoberto de cílios é pretexto para uma aproximação qualquer.
O preto em que está mergulhada a faz ver com nitidez os pequenos raios de luz que entram pela janela.
Lembra com música dos rostos dos pais roubados pelo tempo.
Espera que os sinos dos irmãos toquem no alto da torre o badalar da felicidade, que você não ouve.
Aprecia os que como você toleram as decisões já tomadas, que por dignidade jamais as rompe.
Não rompe com os laços velhos presos em seu chapéu, mas sofre com as amarrilhas apertadas.
E quando toda escuridão se estabelece, você busca em sua memória a imagem daquele carvalho verde a beira mar.

dedução

automático, acho que entrou no automático. perguntar pelo dia, se enfurecer pela hora.
desligar por ocupação de um tempo que não pode ser gasto pelo simples fato de dormir com os mesmos lençóis.
ouvir com os ouvidos fechados para os pensamentos de amanhã.
tempo gasto até com fazenda da internet. não abre a boca. a língua não mexe para saber o que faz levantar seis vezes na madrugada. voltar a dormir, fechar os olhos é um descanso que alivia todo o exercício do amor. fica na dedução sem comprovação.
cai no colo uma janela para conhecer o que não se fala, apesar da troca de salivas pela escova de dente que dorme ao lado.
na outra cabeça passa todo o filme da dúvida deste silêncio. pelo fio a relação se restabelece. fica na dedução sem comprovação.
a parte explicada e a que sente a ausência da explicação ainda sentem. está presente o carinho de se fazer ouvir e querer ouvir quando o cachorro late no retorno de casa.
e como diz o jornalista de palavras sabidas, muitas são as vezes que se pode separar e casar com o mesmo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

dor boa de doer.

dormi em cima da mão esquerda.
unhas vermelhas pintadas de energia.
todo peso faz ela dormir.
descascada na ponta do polegar.
estão nela todos os formigamentos da ausência de sangue.
carne, osso e nervos se tocam.
sangue pulsante em todo corpo.
o peso do corpo controla.
alguma parte precisava mais.
sangue ralo de dor doída.
então minha mão esquerda dôa.
percorre o caminho da correntes vermelhas.
dôa seu sangue ao órgão mais frio.
entrega sua fonte de calor.
um cálice de energia vermelha em forma de sangue.
doa a quem doer.
dor boa de doer por doar.

Imagine...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

reflexão pós-formação

No carro, fazendo um percurso já conhecido, com trânsito "para e anda", ouvindo músicas da rádio preferida, meus pensamentos engrenam em rítmo de trabalho; justamente neste momento de tranquilidade musical entre mpbs, motores e businas, tenho um "insight".

Antes de saber o que fazer em um grupo de teatro que pretendo iniciar, com outras amigas atrizes, quero saber muitas coisas, entre elas quero conseguir responder:

"Qual meu papel no teatro?"

Então primeiro me vieram todas as perguntas que desejo responder em um projeto de pesquisa e estudo, que pretendo começar com elas:

- Quais grupos estão realmente ativos no Estado de SP? Como e porque permanecem ativos? Desde quando? Como iniciaram seu primeiro projeto? De que vontade partiram para a criação? Tem algum objetivo? Quais são os textos/autores que montam e por quê? qual estética, linha artística, espaço escolheram ou desenvolvem?Quem são os premiados nos ultimos anos e em que? Quem recebeu apoio e fomento nos últimos anos e por que?

E então vieram mais dúvidas:

- Qual a visão dos grupos sobre os caminhos do teatro hoje?Um ator de teatro realmente não sobrevive de teatro?Como se sente o ator com relação ao rumo do teatro? O que o ator espera do teatro?O ator sente que está fazendo teatro para quem faz teatro?...e então, com estas dúvidas sobre o sentimento do ator, este ser humano em "metamorfose ambulante", que me veio em mente um projeto para o futuro...talvez more aí a fonte do que me inspira a fazer teatro. Busca interna e entre os que agora me rodeiam, sobre a vida do homem no teatro. Sim metalinguagem.

Bom, só sei que não quero fazer nada mediocre, pelo simples fato de fazer algo. Acho que com a investigação e extrema vontade por saciar minha sede de busca chegarei com algumas respostas no final. E talvez estas me levem a crer, como já colocado por outros colegas, que fazemos teatro pra quem faz teatro. Então esta vontade de saber profundamente o que o ator sente, pode ser uma abordagem que eu queira no meu teatro. Mas ainda tem muita inspiração, aspiração e transpiração que podem me levar em lugares desconhecidos.

Agora vem o mais difícil. Não fazemos nada sozinhos. Tenho que encontrar mais atores que tenham a mesma sede que a minha. Ainda bem que já conheço algumas pessoas que tb estão ansiosas por dar o 1º passo.